terça-feira, 27 de abril de 2010

Deixei Cortegana feliz, mas com saudades para voltar sempre que tenha "ganas"

DE ESPANHA NEM BOM VENTO NEM BOM CASAMENTO... diz-se!
Enquanto dos portugueses se dizia serem o o povo mais hospitaleiro e mais acolhedor.


O que é que aconteceu então aos portugueses que perderam essas virtudes? Hoje ninguem fala com ninguem. No teu bairro nao se vê gente na rua como dantes, nem crianças a brincar, não se dá mais a "salvação".
Se precisas falar com um vizinho recebe-te à porta e não oferece o calor da sua intimidade não vá a sua privacidade ser prejudicada.

Acabo de passar uns dias em Cortegana perto de Aracena, onde vou com alguma frequência.
É certo que tenho lá pessoas amigas mas mesmo quem não me conhece sempre diz: Hola, buenas tardes!
Estive em casa da Ana, uma professora de latim e grego que conheço faz uns anos. Conhece toda a gente e toda a gente a conhece. É professora dos filhos.
Quando lá vou, sempre me mostra algo de novo ou me apresenta alguém que ela acha eu gostaria de conhecer.
É um lugar onde há vida e alegria de viver.
Situada no alto da serra para lá dos Picos de Aroche, tem um castelo e vistas deslumbrantes. Sobretudo uma população jovem, alegre.
Não se ouvem lamentos constantes por causa da crise. Trabalha-se ainda mais para não se deixar vencer.

É lindo e reconfortante ver os jovens participar na vida familiar e social. Não há festa que não se vejam as ruas cheias de gente, vestida a preceito, dar um colorido e alegria inigualáveis à sua terra.

O Miguel, aluno de Ana, vive com os pais numa quinta em "Al Patrás" cerca de 20 km de Cortegana. Aí passa os fins de semana e diz que não sente vontade de sair para outro lado. Tem lá as suas tarefas.
Todos trabalham na exploração de mel que os trouxe de Salamanca para a serra de Aracena onde se instalaram.
Têm milhares de colmeias e o Miguel tem umas quantas a seu cargo que correspondem ao seu soldo.Alem disso tem também a horta e as galinhas para cuidar.
Foi mostrar-me, com orgulho, como se extrai o mel e o polen que é riquissimo em substancias medicinais. Dele se extrai o "própolis" riquissimo antibiótico natural.
É fascinante ver, principalmente nesta época do ano, como esses insectos tão valiosos, povoam a serra e zumbem por todo o lado poisando nos milhares, ou milhões, de flores à procura da matéria prima e levá-la para a colmeia para cumprir a sua tarefa. São um exemplo de trabalho e disciplina que deveríamos prestar atenção e apreciar. São elas que contribuem para manter o equilibrio e a vida na terra. Lindo!
O polen, pensava eu, era manipulado a partir do mel. Mas aquele granulado amarelinho é deixado pelas abelhas logo à entrada da colmeia, numa caixinha colocada para o efeito e que serve de "tapete para limpar os pés" onde fica depositado, prontinho a ser utilizado e nos faz tanto bem.
Um milagre que eu nem acreditava. Obrigada Miguel!

Se valorizassemos mais o campo e as serras e conhecessemos estes processos que estão aí ao nosso dispor,não haveria necessidade de sermos tão bons clientes das farmacias e hospitais.

Quando chegamos encontramos a familia reunida à mesa comendo uns doces tipicos da Pascoa que a família de Salamanca lhes havia mandado.
Com a maior insistência e sinceridade convidaram-nos a sentar à mesa com eles. Enquanto isso já se punha a comida nos pratos. Fomos depois fazer uma caminhada pela serra e o Miguel ia-nos ensinando o nome das muitas e variadas espécies de flores e plantas locais, que ele conhece e acarinha todas de igual forma pois sabe o que lhes devemos.

Mesmo ao lado vive outra familia que se dedica ao fabrico de queijo de cabra e lá fomos em peregrinação visitar os vizinhos e ver como vivem e fazem o queijo. Têm também um restaurante à beira da estrada que é paragem obrigatória, para quem passa por ali a caminho de Huelva, para se abastecer de queijo, presunto (pata negra da região).
Nova comunhão à mesa, em alegria e amizade.
Além disso encheram-nos de presentes: mel, polen, queijos, ovos e o tio José, senhor de quase oitenta anos, cuja ocupação principal são os "caballos" me "regalou" duas ferraduras velhíssimas que eu havia comentado se não haveria por ali e não tivessem já utilidade. O tio José saiu de imediato e, em cinco minutos estava de volta com duas relíquias.


Esta estadia foi especialmente rica em novos conhecimentos e experiencias.

Logo no inicio fomos a casa do alcaide de um "pueblo" proximo ,chamado Galaroza, buscar um perrito Labrador de dois meses que é uma maravilha da natureza. Parece uma bolinha de veludo que passava o dia atrás de mim pedindo brincadeiras e carinhos. Quando não, deitava-se sobre os meus pés. Que doçura.
A Ana nomeou-o de Argos. Argos era o cão de Ulisses que ao regressar depois de 20 anos de ausencia, foi o único que o reconheceu. Abanou o rabinho..., caiu para o lado... e não mais se levantou.
A Ana passa os dias dando classes. Envolvida com as suas tarefas pouco nos viamos, só à noite. Argos e Dana, outra cadelinha caniche que está no fim da sua estadia sobre a terra, ao principio muito ciumenta depois ficou indiferente às tropelias do perrito que não parava 5 minutos num constante desafio para brincar com ela.
A primeira vez que os levei a passear na rua o pequenito nem sabia andar pela trela. Deu-me algum trabalho a ensiná-lo e a recompensar constantemente Dana da sua paciencia para partilhar com o "macaquinho" a minha atenção.
O pior era a noite: O bébé via todos subirem ao piso de cima para dormir e ele tinha que ficar em baixo (?). Chorava toda a noite e ninguem dormia. Após duas noites de sofrimento (para todos) o macaquinho descobriu que era capaz de subir as escadas até cima e choro ficou mais perto.
A Ana cedeu à estratégia do animalito e cedeu-lhe um espaço em cima. Escusado será que, desde então, ocupou o lugar pelo qual lutou e o choro acabou. Pudemos então dormir todos em paz.

Carinhos de um, carinhos de outro, assim passou rapida a minha estadia em Cortegana.

Entretanto Reyes, outra amiga muito querida veio visitar-me. Fomos dar um passeio e, mais uma vez, acumulei presentes e amor.

Não acabou a minha visita sem participar numa actividade organizada por um Club local - um curso de xadrez para o qual se deslocaram da Estremadura o campeão europeu da modalidade e um psicologo desportista que nos falou dos beneficios do xadrez para todas as idades, desde "niños" de 4 a 5 anos até idosos de qualquer idade.
Este curso seguido de torneio vai prolongar-se ate fins de Junho.
Apesar de eu informar que não podia participar por muitos dias, fui aceite sem qualquer sinal de indecisão.

No final da minha participação o campeao Manuel Pérez Candelário e Juan Amtónio Montero (psicologo desportista) ofereceram-me um livro de xadrez de sua autoria e um tabuleiro regulamentar com as respectivas peças.

Deixei Cortegana feliz mas com saudades para voltar sempre que tenha "ganas".


De: Delfina Nascimento, Lisboa

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