quarta-feira, 12 de maio de 2010

Celebração do 60º aniversário de Servas em Gôa, Índia



Viajar é sempre motivo de excitação e nervosismo, mas viajar para a Índia com o intuito de participar na celebração do 60º aniversário de Servas, com um programa rico em actividades e a expectativa de nos juntarmos a muitos membros Servas de outros países fez com que esta viagem fosse muito desejada. Já passaram quatro meses desde que eu e a minha filha Susana partimos rumo a Gôa, convidadas pela secção indiana. Tinhamos lido bastantes livros sobre a Índia e estavamos preparadas para as diferenças, cultural e outras, que iríamos encontrar.
O encontro teve lugar na Peaceful Society, em Kundai, província de Gôa, sítio esse bastante afastado do bulício e confusão. Juntamo-nos a cerca de 70 associados Servas, vindos da Argentina, Brasil, França, Itália, Singapura, Botswana, Tailândia, Taiwan, Coreia, Malásia, Holanda, além de uma representação esmagadora da Índia, país anfitrião.
A língua falada era o inglês, com todas as entoações e "musicalidades" imagináveis.
O lugar, a Peaceful Society, era um lugar encantado, cheio de diferentes tonalidades de verde, gerido pelo Sr. Kamani, que tenta melhorar a qualidade de vida e combater a pobreza naquela região através de programas de apoio às aldeias, ajuda às mulheres e combate à violência doméstica, entre outras coisas.
Gôa é uma província indiana onde se encontram bastantes vestígios da ocupação pelos portugueses, que dali saíram em 1961. Tem também uma costa repleta de praias exóticas, por onde se passeiam calmamente as imperturbaveis vacas, animais sagrados (que aliás marcam a sua presença em todo o lado).
Os indianos são um povo afável, sorridente, hospitaleiro e muito respeitador da Natureza.
Este é um país onde convivem em harmonia todas as religiões desde o cristianismo, hinduismo, budismo, até ao judaísmo, etc. Onde o normal é não se comer carne, nem beber alcool, nem tão pouco é normal fumar. Mas quem o quiser pode fazê-lo, em certos sítios.
No entanto a nossa estadia na Peaceful Society ficou marcada por vários incidentes que tornaram a nossa memória do evento, uma memória negativa.
Apesar de ser um sítio bonito, a Peaceful Society não tinha as condições que previamente tinhamos sido levadas a acreditar teriamos. Dormimos num dormitório (um para mulheres, outro para homens) com 30 camas, sem roupa de cama nem sítio para meter a bagagem. As casas de banho eram à indiana (um buraco no chão, sem água), sem papel higiénico nem sabonete, os duches eram feitos com um púcaro que mergulhavamos em água fria e tudo isto seria ultrapassável se o DR. Ramesh, o Secretário Nacional da Índia que foi quem organizou o encontro, nos tivesse avisado. Muitas pessoas não tinham levado saco-cama, como foi o meu caso, nem iamos prevenidos com papel higiénico, um grande problema pois a loja mais próxima ficava a meia hora de taxi!!!
Sabiamos que as refeições seriam vegetarianas, mas o que tinha sido prometido (pratos diversificados e de várias regiões da Índia) não correspondeu à realidade: serviam-nos sempre o mesmo e por vezes a comida não chegava para todos.
Mas os dissabores não ficaram por aqui...o tal programa de actividades já mencionado, que tinha sido divulgado meses antes, não foi nem de perto cumprido. Logo no primeiro dia o Secretário Nacional da Índia e organizador do encontro, o Dr. Ramesh Sharma, foi peremptório ao afirmar que não queria problemas com a polícia, a qual não tinha autorizado o nosso encontro em termos de "Conferência" pois todos os estrangeiros estavam ali com o visto de turista nos seus passaportes e por conseguinte não poderiamos "do business". Portanto só podiamos confraternizar e nada de palestras sobre o movimento Servas, Ghandi, Bob Lutweiler ou sobre os 60 anos de Servas !!!!!!!! Eu fiquei desolada pois aquele programa tinha sido a razão por que eu estava ali.

No segundo dia foi o dia do passeio: numa camioneta barulhenta e desconfortavel fomos primeiro a Velha Gôa, onde me valeu o meu Guia American Express para perceber o que estava a ver. Depois fomos a um jardim de especiarias, mas aí chegados não nos deixaram entrar pois os ingressos eram demasiado caros. Ficamos então duas horas (sem exagero) sob um sol escaldante e à beira de uma estrada perigosa, sem saber o que fazer a seguir, sem comida e sem entender por que não entravamos. Levaram-nos passado esse tempo para uma praia onde finalmente pudemos comer e descansar ou tomar banho.
De volta à Peaceful Society os ânimos estavam exaltados e formou-se então um pequeno comité que em nome de todos os participantes apresentaram ao Dr. Ramesh uma lista de queixas, basicamente sobre:
--Como foram realmente usados os cerca de 7000§ que Servas India recebeu com as nossas inscrições, visto que o alojamento e refeições não correspondiam a esse valor.
--O nosso desapontamento por não haver actividades sobre a Associação Servas, e uma lista de propostas de actividades para os ultimos dois dias, onde se incluia visitar um jardim de especiarias e uma aldeia vizinha, com a qual trabalha a Peaceful Society.
Sobre a primeira questão não houve nenhuma resposta aceitavel, sobre a segunda parece que realmente se realizaram essas visitas e até que a comida melhorou, mas eu e a Susana já lá não estavamos...fomos ao 4ª dia para uma praia de sonho (Arambola) onde ficamos 11 dias, a descansar, comer, dormir e confraternizar com indianos simpaticos e hospitaleiros que por lá conhecemos.
Apesar de tantas peripécias esta viagem à Índia foi inolvidavel e desejamos muito lá voltar, brevemente NAMASTÉ

De: Carla Kristensen

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